quinta-feira, 21 de abril de 2016

Lobo solitário



Eu não espero que você me entenda. Eu não estou tentando me explicar. Mas é que eu não pertenço à alcateia, sou um lobo solitário. Também não estou me desculpando. Não fiz nada errado, e você também.
Devemos seguir rumos diferentes. A vida não é como a gente quer, nunca é. Eu devo seguir nessa rua escura, solitária e fria e até eu me encontrar não posso continuar. Não posso te prender a mim. Desse modo, estaria atrasando sua vida. E eu não poderia fazer isso.
Você deve encontrar seu caminho também. Quem sabe no final da trilha nos encontramos? Mas até lá, a vida continua girando. Eu vou indo contra o inverno, esperando achar o verão mais rápido que no caminho normal. E se você chegar primeiro, enquanto eu ainda estou em busca de mim, não me espere, pois, a vida não espera ninguém.

domingo, 6 de março de 2016

Que amor é esse?

Que amor é esse feito de dúvidas?
Onde não há certeza de que se quer ficar.
Onde só há a incerteza de saber o que não se sabe.
Que amor é esse que não sabe mais amar?
Onde só existe amor ao que é certo, que é matéria.
Material.
Onde não se ama apenas por amar.
Por querer amar.
Por estar, ou ser.
Que porra de amor é esse?
Me diga.
Não quero esse teu amor refinado - de açúcar de confeiteiro barato.
Vamos! Me diga!
Que amor é esse onde não há construção?
Onde há apenas a desconstrução - de mim.
Que amor é esse que não se permite amar?
Onde no palco, não há dialogo,
Mas sim, um infindável e chato e esdrúxulo monólogo.
Vamos! Não divague mais... Eu só quero saber
Que amor é esse?

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Felicidade

Recebi hoje uma notícia que não me agradou - não agradaria ninguém - mas que não vem ao caso. De certo, abalei-me ao ler tal coisa. Fiquei triste. Sim, chorei. Escondido. Não queria que me vissem assim.
Mas estar triste não é a minha praia. Tenho vocação para ser feliz. Escutei algumas músicas. Li um pouco. Conversei com meus pais. Tive a visita de minha sobrinha. Escrevi um artigo. Compartilhei com meus amigos uma boa notícia. Já estou sorrindo.
Aqui, de frente para o computar ouço o som de trovões - sou apaixonado por tudo que a Mãe Natureza nos dá, mas os trovões e os raios são algo que eu não sei o motivo da existência, não gosto.
Mas, logo penso: amanhã é outro dia e se eu der sorte será um dia de sol.
Ouço a risada da minha sobrinha - ela está brincando com minha mãe em seu quarto. 
Agora, meu amigo leitor, dá licença que vou lá brincar também, vou lá ser feliz.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Era carnaval


Era carnaval. Não pensava tanto em você, mas ao te ver alí ao meu lado, dançando, meio alterada - você fica irresistível assim - não deu em outra. Minha vontade de você voltou, só sentia te querer, sentir de novo seus beijos, seu cheiro, sua pele, seus cabelos. Me controlei. Alguns dias passaram, estava no ponto esperando meu ônibus, e lembrei dos momentos que passamos alí. Ah, que vida bandida! Para que acabar com momentos felizes em nossas vidas? Para que levar para longe os sentimentos? Para que afastar os amantes?
Não tenho ideia das respostas para essas perguntas, só sei que não devo culpar de tudo a vida, eu em grande parte (maioria) que fui o culpado do nosso romance ter tido um fim. Uma vez, em um poema eu disse assim “(...)Ah se o tempo voltasse./ Se ele voltasse./ Meu amor, seria tudo bem diferente./Começaria dizendo o quanto te amo,/ e repetiria isso centenas de milhares de vezes no mesmo dia. (...)Não deixaria de ficar um instante se quer perto de você./ Se ele voltasse, encher-te-ia de amor, carinho, abraços, beijos e amassos./ Mas como ele não volta, eu apenas escrevo à ti.” E é isso que tenho feito frequentemente, e estou fazendo agora. Escrevendo. Escrevendo à ti.
É o que me resta, é minha única saída, minha catarse: onde me liberto e escapo da dor que é sentir e não poder ter.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Paixão

Do que vale amor sem paixão? Nada.
Dizem que paixão dá e passa, e que amor é para sempre. Concordo. Mas o que adianta amar se não tem paixão?
A pessoa que ama é amante. E esse adjetivo não remete-me a parte boa da palavra. Um indivíduo que trai seu companheiro, tem um amante -até mais de um, talvez-. Já paixão não. O apaixonado sente dentro dele aquele fogo, um sentimento de imediatismo, de quero e quero agora.
Amar é bom, mas estar apaixonado não tem comparação. Amar é paixão. Paixão é algo mais, e não cabe a eu explicar, pois, certamente, você já sentiu isso e sabe muito bem do que estou falando, e o célebre Camões já disse em um de seus poemas "Paixão é fogo que arde sem se ver...". Você deve estar se perguntando "Você não se enganou? Não foi amor que falava no poema?". De certo, você está certo, é amor no lugar de paixão, mas permita-me um pequeno devaneio: Camões com toda sua grandiosidade e perfeição errou nesse poema. Pelo menos é o que penso.
As paixões movem o mundo. Então permita-se apaixonar e apaixone-se.
Paixão é o que há!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O Balançar das Folhas

O balançar das folhas das árvores ao vento. Isso foi a maior agitação do meu dia. Não tenho nada para fazer. Nada de interessante para fazer. Eu não sou interessante e não faço nada.
Peguei um caderno velho, com algumas folhas ainda em branco, um caneta e comecei a escrever essa crônica -se é que isso pode ser chamado de crônica-, mas escrever é uma coisa que gosto.
Já disse, não tenho nada de interessante para escrever, falar-te-ei, então, sobre a coisa mais interessante que fiz neste dia: observar o balançar das folhas das árvores ao vento.
Sentado no sofá, olhando pela janela, vejo diversas árvores, uma mangueira, um abacateiro, um limoeiro, um mamoeiro, um pé de cajá e uma de não sei o quê.
De um lado para o outro. Do outro para um. Como se fossem as ondas do mar com seu ir e vir. Como a vida, uma folha cai da mangueira e vai sem rumo encontrar o chão, o seu fim. Como a gente, que não balança com o vento e nem cai, mas que também encontramos dificuldades pelo caminho e, vamos onde o vento nos leva.
Paro e volto para o nada, e fico a olhar o balançar das folhas das árvores ao vento.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Cinco Segundos

Ela estava sentada na calçada, quando o ônibus em que eu estava passou. Nossos olhares se encontraram e nossas almas sintonizaram-se. Ela era a garota mais linda que eu já tinha visto. Anos se passaram. Tivemos dois filhos, um casal. A menina 3 anos mais velha que o menino.
Vimos nossos filhos cresceram. O menino era brilhante. Formou-se em Direito, sonhava em ser juiz. A menina só nos trazia problemas e mais problemas. Engravidou duas vezes, e em ambas perdeu o bebê. Ela contraiu AIDS e por conta da baixa imunidade, morreu com uma simples gripe.
A morte dela foi o dia mais triste de nossas vidas. Mas para viver, só indo pra frente, então decidimos que não poderíamos continuar daquele jeito. Enxugamos nossas lágrimas, lavamos nossos rostos e sorrimos.
Nosso filho se casou com uma linda professora de geografia. Tiveram dois meninos, Gêmeos. Vimos eles se desenvolverem. Eram a nossa alegria.
Minha mulher foi diagnosticada com câncer de mama. Entre várias sessões de quimioterapia, entre a queda de cabelo, entre a retirada da mama esquerda, estávamos felizes, o câncer tinha sido controlado. Não por muito tempo. Novamente, ela foi diagnosticada com câncer, dessa vez na faringe.
Já não podendo falar, sem forças para enfrentar a quimio, ela desistiu. Encontrei-a morta no chão do banheiro, e em sua mão um frasco de tranquilizante. Ela tomara todos os comprimidos. Morreu de overdose.
Não me contive, desabei em choro. Não sabia o que fazer. Ela era minha vida, minha luz, minha inspiração. Entrei em estado de choque. Nunca me recuperei.
Hoje faz 7 anos em que estou internado neste hospital psiquiátrico. Não faço nada, a não ser ficar sentado nesta cama, olhando para a janela e pensando que estou no coletivo, olhando para aquela linda garota sentada na calçada enquanto meu ônibus passava. Isso só aconteceu na minha cabeça, por mais ou menos cinco segundos.
Cinco segundos, foi o tempo em que nossos olhares se viram, o tempo em que o ônibus passou, o tempo em que eu eternizei-a.